domingo, 10 de fevereiro de 2013

A negritude


A Negritude tem a sua origem nos movimentos culturais protagonizados por negros, brancos, mestiços que, desde as décadas de 10, 20, 30 (século XIX), vinham lutando por renascimento negro (busca e revalorização das raízes culturais africanas, crioulas e populares) principalmente em três países das Américas, Haiti, Cuba e Estados Unidos da América, mas também um pouco por todo o lado.
A ideia de renascimento, indigenismo e negrismo surge como consequência das luzes e do romantismo, que levaram à abolição da escravatura e finalmente à possibilidade de, após a Revolução Francesa de 1789, os povos supostamente poderem assumir a liberdade e igualdade.
O termo "Negritude" aparece pela primeira vez escrito por Aimé Césaire, em 1938, no seu livro de poemas,  está intimamente associado ao trabalho reivindicativo de um grupo de estudantes africanos em Paris, nos princípios da década de 30, de que se destacam como principais responsáveis e dinamizadores Léopold Sédar Senghor (1906) senegalês, Aimé Césaire (1913), martinicano, e Leon Damas (1912), ganês. Estes autores da Negritude legaram-nos uma obra literária da máxima importância; mas foi Senghor que, com a Presidência do seu Pais (Senegal) e uma larga aceitação Ocidental (política literária e académica) contribuiu decisivamente para a divulgação da Negritude.
É a Senghor que são atribuídas as primeiras tentativas de definição do conceito de Negritude: "Conjunto dos valores culturais do mundo negro”.
Eis alguns valores característicos do homem negro:
- o homem negro é essencialmente religioso e cultural, ritual e celebrante, porque para ele existe um ente supremo, o "sagrado", que é o verdadeiro real
- o homem negro é simbólico, porque o seu mundo é o mundo das imagens e do concreto; todas as realidades materiais, visíveis e imediatas são anunciadoras e portadoras de outras realidades
- o homem negro é o homem de coração, porque, para além do corpo, da forca vital, da habilidade, do entendimento e de todas as outras qualidades humanas, é ainda pelo coração que o homem se define, que o homem vale e é julgado; para usar a categoria de um provérbio africano: "o coração do homem é o seu rei".
Importa revelar ainda que chegou mesmo a haver grandes figuras Ocidentais dizendo que a negritude era também um movimento racista. Mas isso não corresponde à verdade, porque se para Césaire a "Negritude", no início, se fez racista simplesmente para realçar os seus valores, a sua dignidade e afirmá-los, para Senghor era ainda algo mais do que isso: a "Negritude" é um humanismo, porque todas as raças tinham lugar neste universo civilizacional de inspiração do homem.
É de capital importância referir-se ainda que a "Negritude" não surgiu apenas com o objectivo da recuperação da dignidade e da personalidade do homem africano, mas também como um movimento propulsionador da descolonização em África.

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